Por boas maneiras de se ensinar boas maneiras

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O menino queria brincar mais que comer e jogou uma almôndega na cara da avó.

O pai, no dever de ensinar ao filho o valor do respeito aos outros e aos muito mais velhos, só tem um tipo de linguagem possível para se fazer compreender pela criança. Mas ele exagera:

– “a próxima vez que você jogar comida na cara da velha, eu vou pegar o martelo e quebrar um a um os dentes da sua boca!”

(De preferência fazendo cara de mau, gritando e esmurrando a mesa etc. Um tabefe de amostra grátis também é recomendável.)

É. Tem vez que dá certo e o pavor faz a moral do pirralho pegar no tranco.

Mas tem vez que o filho da puta é tão estragado, mimado, folgado e insolente que ele truca (falta de couro, portanto a culpa é sua).

Agora lembre-se: nunca faça ameaças que você não possa cumprir – se não quiser, neste caso, transformar seu filho num monstro e você mesmo num rato. Pois as mais temíveis vão te exigir palavra, trabalho desgraçado (tipo de alferes inconfidente) e dinheiro sofrido. A porra do guri não paga sequer a própria enfermaria, o que dirá uma internação.

A onerosa desdentição do pivete terá ao menos servido a uma boa e justa causa. Os dentes se vão mas os princípios ficam! Até porque, depois que ele virar assalariado, compra uma dentadura e tá de boas. O mundo inteiro ainda há de te agradecer. No entanto, teria sido tão eficaz e mais simples se fosse só um tabefe mesmo…

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