O Último Tango em Brasília, ou: as 80 horas da CNI, hora da revanche burguesa

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“Em todos os períodos revolucionários da história é possível encontrar duas etapas sucessivas, estreitamente ligadas uma à outra.

Primeiro, há um movimento ‘espontâneo’ das massas, que toma o adversário de surpresa e arranca dele sérias concessões, ou pelo menos promessas; depois disso, as classes dominantes, sentindo ameaçadas as bases de sua dominação, preparam sua revanche.
 
As massas semi-vitoriosas manifestam impaciência. Os chefes tradicionais de ‘esquerda’, apanhados de surpresa pelo movimento, da mesma forma que os adversários, esperam salvar a situação com a ajuda da eloquência conciliadora e, ao fim das contas, perdem sua influência. As massas entram na nova luta quase sem direção, sem programa claro e sem compreensão das dificuldades próximas”.
 
– Leon Trotsky

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Arrefecidos os momentos mais recentes dos vagalhões de Junho de 2013, a burguesia brasileira faz os cálculos de seus prejuízos e manda o garçom entregar a conta ao povo.

É assim que Robson Braga de Andrade, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), se sentiu à vontade neste 08 de julho de 2016 para “dar um toque” na próstata do temerário Interino do Brasil, digo, exigir que o governo federal se empenhe para que o país “adote iniciativas” (lindas palavras!) para impôr “mudanças duras” na Previdência Social e nas leis trabalhistas – a exemplo das que o vanguardista Hollande empurrou reto adentro nos trabalhadores franceses.

 
O patriótico burguês está preocupado com a economia brasileira, que em sua cabeça – aliás, na realidade – significa “meu bolso”, e quer leis que permitam uma carga horária de trabalho de nada menos que 80 horas semanais, o que dá 12 horas diárias, se incluir os dias inúteis do sabbath judaico e do dominus cristão.
 
No caso de se trabalhar eight days a week, serão apenas dez horas diárias, restando oito pro descanso e seis para o lazer no ônibus e metrô. Afinal, qualquer um tem hoje um celular que, além de ser repleto de opções de entretenimento, agigantou a produtividade do ócio, de modo que isto não tem mais porquê consumir oito horas diárias. Senão, o trabalhador ainda tem outra opção: dormir menos.
 
Andrade disse: “É claro que a iniciativa privada está ansiosa para ver medidas duras, difíceis de serem apresentadas. Por exemplo, a questão da Previdência Social. Tem de haver mudanças na Previdência Social. Caso contrário, não teremos no Brasil um futuro promissor”.
 
Leia-se: “é claro” que meu lucro está sequioso do sangue dos trabalhadores, etc. Tem de haver jeito de foder com eles. Caso contrário, não terei um promissor usufruto privado da riqueza social por eles produzida.
 
E é aí que o nosso patrão aponta para o exemplar estupro trabalhista de Hollande, que se justificaria porque “a França” perdeu competitividade na atividade industrial: “Agora, ela está revertendo e revendo suas medidas para criar competitividade. O mundo é assim e temos de estar abertos para fazer essas mudanças”.
 
O mundo é assim! Alguém tem de reverter o pato, né?
 
“Temos de estar abertos para fazer essas mudanças” – entenda-se: temos de abrir as nádegas e o terceiro olho do trabalhador para o ferro entrar fundo, até sair pela boca.
 
E desta vez, sem Mantega. O último tango em Brasília é um batuque feito com panelas.
 
Por fim, e seguindo de perto a cartilha da canalhice clássica da direita, “somos totalmente contra qualquer aumento de imposto. O Brasil tem muito espaço para reduzir custos e ganhar eficiência”.
 
“O Brasil” que quer reduzir custos com direitos trabalhistas tem sobrenome: Andrade.
 

Quanto a ganhar eficiência, isso significa que, ao invés de matar um leão por dia, agora o trabalhador deve ser jogado aos leões. A pobreza fará a produtividade pular!

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carro do patrão
empreendedorismo para trabalhadores

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