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SOBRE ESTE BLOG – Nota Inaugural

Palestra do Mészáros na UFMG - fotos da Ester - 5b
com István Mészáros

Tenho recebido muitas solicitações para adicionar novos amigos no facebook e me sinto muito lisonjeado com elas, e também com os que optam por seguir meu mural. Sejam todos muito bem-vindos!

Já faz muito tempo que sou cobrado para fazer um blog, dada a rapidez e facilidade que ele permite encontrar textos e arquivos; e, agora, diante de antigas e novas súplicas e lamentos, decidi montar um.

Tal como em meu mural no facebook, não estou aqui pra falar de mim. Estes espaços são de informação, de opinião e de crítica, por vezes temperados com algum humor. 

Curtiu? Sinta-se à vontade para compartilhar. Eu só tenho a agradecer, mesmo que seja para me descer a cacetada da crítica.

Comentários pró e contra são sempre bem acolhidos. Aqui não há censura, ao menos enquanto a briga de facas se mantém no terreno das idéias e nenhuma falácia insultuosa se dirige contra os debatedores. Porém, ou portanto, não espere que, quanto ao assunto que for, seja a Madre Tereza de Calcutá que daqui irá responder, não importa também quem for.

Costumo dar os créditos daquilo que compartilho, convido-os a fazer o mesmo e agradeço a quem me citar como autor daquilo que escrevi e publiquei, ao compartilhar meus textos. Mas isto não é absolutamente necessário. As idéias, uma vez exteriorizadas, não pertencem a ninguém. Sintam-se livres para fazer das minhas o que quiserem. Modifiquem-nas, se isto as fizer melhores. O importante são as idéias e não o autor. Não estou preocupado com a autoria e a “originalidade” delas. Não interessa e não faz sentido pretender ter posse de algo que só possui razão de ser quando tornado comum, comunicado.

Respeito e eventualmente gosto de blogs e murais de quem encara a internet como uma ilha da fantasia. Mas meu blog é ligeiramente diferente. É uma trincheira ideológica minha.

Há muita poluição e muito fascismo rolando no mundo e na internet. Trata-se aqui de combatê-los, e de afirmar, argumentar e lutar pela emancipação humana universal e irrestrita.

Eu não sou imparcial. E mando à merda quem pretenda sê-lo.

Portanto, este é um minúsculo e humilde espaço que arroga-se o direito a afirmar as coisas e a justificar o que afirma, e o faz no interesse da transformação radical do mundo e da individualidade humana. Em uma palavra: este é um blog comunista, e não tem nenhum receio de ser julgado a partir da ignorância alheia quanto ao que signifique isso.

Saudações revolucionárias e, mais uma vez, obrigado. Sigamos juntos!

Nota sobre a Caverna de Platão

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A alegoria da caverna de Platão é uma ilustração da passagem do rudimentar para o espiritual, do ilusório para o verdadeiro, da ignorância para a ciência, da heteronomia para a autonomia, do desamparo para o cuidado de si e, ainda, entre outras coisas mais, da ilustração mesma para a idéia, do pensamento sensível, por imagens, para o pensamento espiritual, por conceitos.

Há quem saia, há quem volta, há quem desiste no meio do caminho, mas o fato é que só se sai por meio de uma trilha íngrime, escarpada e tortuosa, que só a persistência faz parecer ficar menos árdua à medida que se esfola no cascalho. E no fim, temos o lótus se alimentando mas também vencendo o lodo.

Para entrar ou voltar ao fundo da fossa há uma estrada impecável, reta, sem limites de velocidade, com o mais rápido rally em piloto automático. Mergulhar nas trevas da estupidez e da autodestruição não é apenas fácil, é prazeroso; e não faltam aplausos.

O humano tem essa plasticidade de virar um deus ou uma besta fera (o que não está sempre à disposição de sua escolha).

Ao subir, é possível ver lá fora aonde se quer chegar. Ao descer, nada se distingue; nesse breu, tanto faz aonde a estrada vai dar.

(algum dia esse rabisco continua.)

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O Sol acima do Sol: não é claro, é a claridade

Imortalidade

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Aqueles tantos indivíduos da desaparecida civilização micênica, que deixaram nada ou quase nada de suas vidas na memória da humanidade, foram parte dos pressupostos que fizeram Pitágoras trastear um nervo de carneiro e descobrir as ondas sonoras de acordo com cada ponto em que dividia o nervo.
 
 
O nervo do carneiro de Pitágoras faz parte dos pressupostos da subjetividade de todos os indivíduos vivos ou mortos que se fizeram ouvintes de música.
 
 
Quantas coisas mais não poderíamos citar?
 
 
Aquele indivíduo de quem não há nenhuma memória, daquela civilização desaparecida há mais de 3 mil anos, continua entre nós e, mais que isso, em nós, mesmo que não saibamos nada a seu respeito.
 
 
Ser é mais que saber e isso já é mais que suficiente para dizermos: na morte o corpo vira natureza, a alma vira mundo.
 
 
É isso o que interessa? Ora, o interesse vira paz absoluta.
 
 
Não haverá justiça? Única resposta para quem deseja um tribunal que, belo dia, faça a divina redistribuição da renda é: não se preocupe. Ocupe-se.
 
 
Por fim, comporte-se na hora da morte. Muito antes morreu Pátroclo, que era um nego bem melhor do que nós.
 
 
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Máscara mortuária de Agamenon, também melhor do que nós
 
 

Vida depois da morte

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Há quem acredite em vida depois da morte.

É coisa tão tola quanto acreditar que estamos lendo este texto neste exato instante. Fatos se constatam: não há porque acreditar em um fato, a menos que este não seja, de fato, um fato, tal como todo objeto de crença se traveste (nada como o sucesso nadificante do auto-engodo…).

Mas a vida depois da morte é um fato, e você aí é uma evidência deste fato.

Ok, não se tratava de você, mas de alguém que vivia e agora entrou em harmonia com a natureza.

Pois é, virou natureza. Comida de bactéria, talvez uma natureza morta… Ora, nada na natureza se cria ou se perde, tudo se move.

A bactéria é tanto “outro ser” em relação a nós quanto nossa flora estomacal, só que, desta vez, nós é que vamos pro estômago dela.

Portanto, há vida depois da morte.

Ah, não se trata de vida orgânica, mas “vida espiritual”, um Eu que se descola do tecido cerebral e vira éter no além?

A esse respeito, um plus de qualidade: há quem acredite numa vida MELHOR depois da morte.

Buenas, agora não parece algo constatável.

Mas por vezes é!

Tudo depende de quem morre. Em alguns casos, depois que fulano vira éter, todos passamos a viver melhor.

PS. Antes que me acusem de estar sugerindo ou promovendo qualquer coisa que ultrapassa minhas jurisprudências, devo dizer que, apesar de não faltar quem esteja aí fazendo peso sobre o planeta, também é fato que ninguém aqui está em campo, no máximo torce do alto das galerias; o mesmo vale para as sombras dos stalkers, essa gente tão minúscula quanto um salsicheiro de dossiê.

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Criar empregos: “interesse da nação”

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Evidência do caráter alienado e alienante da política é a centralidade e apologia da “geração de empregos”.
 
 
 
Como se, para isso, bastasse um governante (ou qualquer outro “representante do povo“) dotado de “vontade de fazer”. Vai fazer parir de sua boa vontade milhares de “empregos”, para a felicidade geral dos trabalhadores.
 
Como se trabalhar em troca de salário não fosse o principal meio de transformação da própria vida em fardo, da própria subjetividade em máquina; o funcionário é aquele que deve funcionar, seja pra auto-imolação que for.
 
O ator político (expressão comum no discurso “filosófico” e “científico” sobre a política – ou seja, na conversa mole de jornalistas, publicitários, políticos profissionais e suas torcidas organizadas, eclésias, currais etc. – que pretende nos dizer bem menos do que diz!) vende a fantasia do “trabalho que dignifica o homem” e que só depende de uma boa alma, como a sua, pra passar do verbo à carne.
 
Ele não costuma explicar o que na verdade significa essa vontade de investir na geração de empregos, às vezes nem fala em investir qualquer coisa. Mas se ele é um político de esquerda, os compromissos com seus invest…, digo, representados pode exigir alguma clareza, e assim é que ele articula a bazófia para demonstrar que “se é bom pro patrão, também é bom pro trabalhador”, e muitas vice-versas; portanto, é bom para toda a sociedade (são os interesses da “nação”! Da qual ele é o porta-voz, claro) que verbas públicas sejam entregues para tal e tal setor ou grupelho da burguesia; o nome disso é “criar condições” para se estender a produção, a distribuição, os serviços, para que se abra e amplie mercados etc. É a “parceria público-privada”: corrup…, digo, privatiz…, digo, financiamento da economia “brasileira”! Foi o Brasil quem me disse que quer assim!
 
Mas o nosso voluntarioso produtor de condições jamais vai admitir que é o capital, e não o Estado e a política, que determina tais condições para a criação de novos empregos. Acreditar que sem Estado não há sociedade é um pressuposto de sua atividade e ao mesmo tempo uma velha elucubração metafísica chulé, que se sustenta apenas quando nunca se ouviu falar em história.
 
De modo tal que só faltava a burguesia topar assumir os fins que o bom demiurgo político lhe sugeriu dar ao dinheiro público que enfia em seus bolsos privados. Claro, por vezes (ou sempre) ele é discretamente premiado por seu altruísmo social e sua generosa boa vontade, e não faz escândalo quando a burguesia resolve dar seus próprios fins privados às verbas da geração de empregos. Pois, convenhamos, quaisquer forem estes, sempre significarão dinheiro circulando, aquecendo a economia, criando algum emprego – nem que seja de flanelinha, uberite, desesperado, traficante, ladrão etc, tudo isso que move a máquina da caridade religiosa e seus dízimos, da reeducação cidadã pela pedagogia policial e penitenciária etc, etc.
 
(Religião e Direito, pilares da moral do homem-mercadoria, também giram os Sagrados Códigos da Economia.)
 
Em suma, o que é bom pro patrão é bom pro trabalhador, pro padre, pro policial e pro político.
 
Tudo isso quando até mesmo um plâncton é capaz de perceber o exato contrário.
 
 
 
A política e seus atores, seus palhaços e seus maquiadores, seus títeres e seus adestradores, seus vendedores de chiclete e seus barões querem perpetuar a “Aliança Capital-Trabalho”, eufemismo para o que nada mais é que – capital.
 
Pretendem imortalizar a forma mais radical do estranhamento humano, que produz não apenas um mundo desumano, mas principalmente o destrói por todos os lados, desde a natureza até os indivíduos.
 
A política não ousa, e nem pode ousar sequer fazer menção à realidade. Ela não é o lugar da crítica, mas da serventia. Não é a voz da verdade, mas do glacê sobre o ôco.
 
Quando o que mais precisamos não é de empregos, e sim destruir a sociabilidade do emprego, acabar com toda forma de “empregar” pessoas, usá-las como se fossem meios, e o pior, para realizar fins que não possuem sentido algum. Qual a finalidade do capital? Valorizar capital. Para quê? Para valorizar o capital ainda mais. Ad infinitum, ou pelo menos até findar a espécie humana.
 
Assim como não se trata de “integrar” os excluídos (por meio de bolsas-esmola), mas de despojar a todos da associação da exclusão.
 
 
 
– “Ah, você preferia estar desempregado???”
 
Chegou o esquerdista chupa-bola do patrão!
 
Não, eu preferia estar livre da coleira que você usa e defende, a única coisa que não apenas produz essa imensa miséria do trabalho assalariado, como também é a genitora em escala industrial dos decretos da obsolescência dos homens. Da qual, aliás, ninguém há de escapar. Devo implorar ao “empregador” que me parasite ainda mais, enquanto funciono pra ele?
 
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