O homem é um animal político?

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Os filósofos e cientistas politólatras curtem atribuir a Aristóteles a expressão “o homem é um animal político”.

(Sabe como é: se Aristóteles o disse, então devemos todos virar arendtianos – com o bonus track disso ser muito melhor que seguir a “aristotélica” Ayn Rand, se bem que a bactéria não faz da pulga um gigante.)

Pena que não costumam acompanhar a letra e o raciocínio do estagirita, que poucas linhas depois da famosa “ἄνθρωπος φύσει πολιτικòν ζῷον”, vai afirmar: “bem mais que as abelhas”.

Das duas, uma: ou Aristóteles não entende “πολιτικòν” no sentido moderno e está dizendo que o ser humano é um ser gregário, i.é, social, ou então que a colméia é o aparelho estatal da política monarquista das abelhas, cuja cidadania é rigorosamente hierarquizada por instituições públicas que garantem a produção de mel.

Melhor ainda se Aristóteles falasse das formigas, cuja pólis conta ainda com um aparato repressivo militarizado pra manter a ordem.

Quer apostar que tem gente com cara de pau suficiente pra defender a existência de repúblicas entre os himenópteros? O que indica bem o quão humanizado é esse negócio de Estado, e também o que o entendimento político considera ser humanização. Pois não há nada mais politicamente conveniente que degringolar ladeira abaixo pela antropologia filosófica de Maquiavel e Hobbes, segundo os quais somos todos bestas ferozes (uma idéia procedente da pura empiria: eles simplesmente estavam observando a sociedade burguesa se estabelecer sobre a dissolução das formas comunitárias em que os homens viviam antes de se tornarem “lobos do homem”) e, por questão de sobrevivência, devemos assinar o pacto “social” com que o Leviatã irá nos adestrar na civilização – de civis, o termo latino para o grego pólis, donde que as palavras cidadania, política, polícia e formigueiro têm algo a ver umas com as outras.

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Sou amigo do Platão dessa empresa!