.
“Não defendo que o país tenha que ter um projeto de esquerda. A nossa economia, nossas relações internacionais, tudo isso não compreende um projeto de esquerda sectária e ultrapassada. Por isso o trabalhismo, o PDT principalmente, nunca deixou de reconhecer a importância do mercado privado. Aliás, sempre tivemos uma briga histórica com os comunistas por conta disso. Nosso projeto é unir quem produz com quem trabalha, reindustrializar o país e sanear as contas dos Estados”.
Ciro Gomes – ago 17
“[O perfil de Benjamin Steinbruch] responde perfeitamente [ao que procuro para ser meu vice]. Esse momento está pontilhado de fofoca, intriga e especulação. Só quem vai falar na minha dimensão é o presidente do PDT, Carlos Lupi. Ele está autorizado a abrir qualquer conversa, porque pretendo unir o Brasil que produz com o Brasil que trabalha. Quero um vice da produção, ligado ao Sudeste do País”.
Ciro Gomes – mai 18
Os candidatos da esquerda viável são o que a esquerda tem de mais inviável.
Todos eles querem a reedição da “Aliança Lulista”, aquela vaselina entre o ferro do capital e o cu do trabalhador.
A última versão dessa pretensão foi anunciada num oráculo do candidato trabalhista: “unir quem produz com quem trabalha“.
Quem produz, senão quem trabalha?
Ou então, Benjamin Steinbruch é quem trabalha, enquanto Ciro Gomes produz… bobagens.
A “esquerda viável” não é apenas a esquerda eleitoralmente “viável”.
É a esquerda do “isso dá pra fazer” , a esquerda que não tem a “utopia revolucionária comunista”.
É a esquerda do “socialismo possível” e para “todos”.
O Sol nasce para todos, né? E isso não é simplesmente uma alusão ao PSOL, é slogan de um mandato de prefeitura do PT de alguns anos atrás em Belo Horizonte e alhures; pois nada mais é para todos (exceto talvez para quem trabalha na mineração) que o Sol.
Quanto à sombra, fica para o sombrio capital.
O socialismo possível é aquele que busca fazer aliança entre o ferro do capital e o cu do trabalhador, como se esta aliança já não fosse o próprio ser do capital.
Mas, na imaginação não-utópica, não se trata de qualquer capital, e sim o capital nacional e produtivo, não-especulativo, como se houvesse capital nacional e capital não-especulativo.
Portanto, trata-se de uma aliança com o capital “progressista”, como se houvesse capital progressista.
O socialismo possível quer que o capital “produtivo” produza as condições em que todos irão participar da distribuição de renda; cabe ao socialismo possível simplesmente determinar que o capital produza ambas as coisas, como se ele já não o fizesse desde sempre.
Então o capital produz, enquanto o socialismo trabalha… na burocracia.
O socialismo possível é o socialismo do trabalho fácil – de “aplicação de políticas” ao capital.
É fácil porque não se trata de alterar a produção, o capital, mas apenas a distribuição daquilo que é produzido; como se a distribuição não fosse ela própria um produto. Eis aí a “não-utopia”.
Utopia é mudar a produção, pois o capital é natural, e não se muda o que é produzido por Deus (apesar do trabalho cometer, todos os dias, os mais absurdos e profanos abusos prometéicos e luciferianos; e aqui não é preciso pensar na engenharia genética, basta pensar no cruzamento de espécies que fez o trabalho inventar bananas, gatos, seres humanos, capital etc).
O socialismo possível da esquerda viável é aquele que quer distribuir renda para todos a partir de uma política aplicada ao capital, sem no entanto mudar o capital; isso é fácil, possível, viável e não-utópico.
É o socialismo que o capitalismo não só gosta, mas já pratica desde sempre.
Quanto ao socialismo revolucionário comunista utópico, resta a compreensão de que só se muda a distribuição se se muda a produção da distribuição.
Mas isto é inviável, porque dá muito trabalho aos que trabalham e não distribui nenhum do trabalho “comum”, “para todos”, ao capital.
Revolução dá trabalho porque é difícil, e o que é difícil, ainda que seja necessário, é inviável eleitoralmente.
A esquerda viável é viável ao capital; já aos trabalhadores, apenas eleitoralmente.
.