Radicalidade: moral e inteligência verdadeiramente humanas

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Porque tantas críticas à esquerda? Será que eu sou lateral-esquerdo do time da direita?

Não.

Fazer crítica à direita é o feijão com arroz, na medida que ela mesma já se autodesqualifica, ainda que a crítica seja necessária quando o óbvio precisa ser mostrado nas fuças dos inocentes (o que tem sido o caso há muito tempo, como viu Brecht).

A crítica à esquerda, na medida que ela pretende ser a representação política da luta pela emancipação dos trabalhadores, mas não faz jus a tal pretensão, deve ser implacável, de rigor e radical – por uma questão de honestidade teórica e prática para com os fins pretendidos; tão implacável, de rigor e radical quanto a crítica ao modo de vida burguês.

Radicalismo não é sectarismo ou dogmatismo, e sim a posição mais coerente e consequente com a verdade da necessidade de vida humana autêntica

Ser radical é ir à raiz das questões. Quem não é, bóia na superfície – e nada é mais conveniente, não só porque é fácil, mas porque as aparências enganam.

Assim como o reconhecimento dos princípios morais não faz necessariamente alguém ser um moralista, afirmar a existência de verdades nem sempre faz de alguém um partidário do dogmatismo.

Aliás, se “dogma” significa “verdade inquestionável”, o reconhecimento da validade de alguns “dogmas” – você pode abstrair estas aspas sem nenhum problema – é simplesmente um dever trivial (intelectual e moral, teórico e prático) de quem possui córtex cerebral.

Por exemplo, contestar algo como a verdade da afirmação “verdades existem” não faz de um sujeito o campeão da crítica, mas sim da pura e sórdida burrice.

Ater-se a princípios morais ou dogmas, na crença de que basta “desdobrá-los” e/ou “aplicá-los” nos fatos concretos para compreendê-los, eis o que produz moralismo e dogmatismo; eis aí a mistificação (do que era razoável) que merece ser alvo da crítica.

Todo crítico é um relativista, mas nem todo relativista é um crítico. A diferença entre eles é que o crítico só é capaz de fazer a crítica porque parte do reconhecimento de um critério, e faz a relação das coisas com ele; já o relativista é aquele que faz “crítica” do critério e, por isso, relativiza tudo, de modo a cair no relativismo absoluto – donde este relativista se mostrar um absolutista, exatamente o que ele imaginava se opor.

Um cético só se faz importante para o saber e para a ação na medida que reconhece verdades das quais ele parte; ceticismo absoluto é dogmatismo.

A propósito: nem todo “ismo” é abstrato, nem toda crítica é concreta. A crítica aos “ismos em geral” é, ela mesma, um… criticismo.

Nem tudo que é simples possui a virtude da clareza; por vezes, possui apenas a pobreza da simploriedade.

Pois a realidade é complexa; mas nem todo pensamento complexo é verdadeiro. Por vezes a dificuldade da idéia reside tão somente em sua falta de conteúdo e de racionalidade.

Tergiversação, rodeios e fanfarronice são formas da falsidade, ou melhor, de travestir esta com a aparência da erudição, a ostentação do acúmulo de “capital cultural”, reles manipulação mercantil de vocábulos e cultivo academicista de erva daninha nos vasos da auto-ilusão.

Donde a honestidade intelectual ser revolucionária. À esquerda jamais caberia edulcorar o discurso para este se tornar palatável, via simploriedade e eufemismos. Mas, enquanto seus fins são políticos e a política não lhe servir apenas enquanto um meio, toda crítica a ela deve ser feita e ainda será pouca. 

A História não absolverá os covardes.

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